Era o início da década de noventa quando eu ganhei a minha primeira fita cassete com segundas intenções . O tempo passou , as mídias evoluíram mas uma coisa permanece como básico no ABC da conquista : Nada diz eu te quero melhor do que uma playlist customizada.
Música tem um poder de teletransporte incrível. Basta escutar determinada canção que somos capazes de lembrar de momentos felizes , de dores de cotovelo épicas ou de criaturas que já ornaram a categoria de "amor da minha vida daqui até a eternidade" . Tal como o extinto programa de Silvio Santos Qual é a música ? , basta o maestro Zezinho dá um fá sustenido qualquer e você já se arrepia. O dejavú musical só se encerra no último acorde, deixando escapar num suspiro : "essa música é a cara de fulano!"
O homem aprende desde cedo a transformar a memória musical de uma mulher em algo afetivo e portanto como um ponto vulnerável a ser explorado a seu favor.
A primeira fita cassete que ganhei veio junto com a frase que se repetiria inúmeras vezes com as criaturas subsequentes da minha ode amorosa :" Gravei essas músicas pensando em você e quero que você pense em mim quando escutá-las." E como leis talhadas em pedras a partir dali você e a criatura estarão ligadas para sempre por acordes musicais.
Há 200 mil anos atras ,um cara que trabalhava num outro setor do meu antigo trabalho (e cujo a existência para mim era despercebida) ,me abordou um belo dia , após um recesso de fim de ano e me entregou um CD. Ele me disse que durante o recesso havia sentido vontade de gravar aquelas músicas pra mim e que esperava que eu gostasse. Apenas isso. A coletânea tinha Bush , Go Go Dolls , Audioslave entre outros. Isso me fez ver a criatura de uma forma completamente diferente . Dali por diante , nunca mais ele passou despercebido. Objetivo alcançado !
Para a química acontecer no entanto, você tem que curtir a música também. Não adianta tentar criar conexões com músicas românticas de Belo se você não é chegada a pagode ou se o cara é louco por Paula Fernandes ( eca!) e você é uma pessoa mais rock and roll. Essas tentativas podem ser bem sucedidas ou não . Eu comecei a gostar mesmo dos Beatles porque tive uma figura , grande conhecedor musical que me acordava cantando " If I fell in love with you would you promise to be true and help me understand .." Já outra criatura tentou me convencer que Marcelo Janeci era massa mas eu odiei .
O pior caso de rejeição musical-afetiva que tive foi com uma criatura que já vinha dando umas indiretas de interesse por minha pessoa. Ele era muito musical e eu até achava que ele tinha um bom gosto por nossas conversas. Em uma tarde fagueira qualquer, ele deixou na portaria do meu prédio um cd gravado e um bilhete sensualmente escrito "Ai está o resumo do MEU momento de vida , dos MEUS objetivos e daquilo que eu quero descobrir . Ouça com muita atenção a cada palavra , de coração e mente aberta e depois , mas só depois de deixar teu sentimento fluir com a genialidade desse cantor , você me fala se esse também poderá vir a ser TEU momento e ai sim poderemos viver essa trilha sonora como HINO de vida." Putz ! Que responsa !!! Ate o cd player mais próximo eu pensei em quem poderia cantar tanta profundidade assim pra virar um hino existencial.
Devo confessar aqui que nada poderia ter me preparado para o desfecho dessa ária trágica.
Gravado no CD havia uma música apenas , repetida inúmeras vezes : AMOR MAIOR DE JOTA QUEST ( segue trecho do "hino" )
"É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço...
Quero um amor maior
Um amor maior que eu
Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu..."
Palavras não podem descrever o que eu sinto pelo grupo Jota Quest mas talvez OJERIZA chegue mais próximo disso. O boy não poderia ter escolhido pior uma trilha sonora para me conquistar e ficou pasmo com a minha rejeição à sua tática ( que deveria ter funcionado muito bem com outras mulheres).
Nunca mais eu consegui olhar pra ele sem sentir uma repulsa e assim o momento e os objetivos de vida dele permaneceram só com ele mesmo. Esconjuro !
Assim concluo esse post dizendo que sim playlists funcionam como tática de sedução mas precisam ser baseadas numa prévia observação para serem de fato eficazes. A associação de alguém com uma música é atemporal e mesmo quando você não sentir absolutamente nada mais pelo meliante , quando tocar Scorpions " Still loving you " será impossível não lembrar . Experiência própria.
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